sábado, maio 03, 2014

Pseudociência e pseudocultura - I

O primeiro cientista a propor que se consagrasse a dúvida como virtude fundamental do espírito que procura o conhecimento, esclareceu que ela era um instrumento e não um fim em si próprio. René descartes escreveu:

"Não imitei os cépticos que duvidam por duvidar e pretendem estar permanentemente indecisos; pelo contrário, a minha intenção foi chegar a uma certeza e escavar na areia e nos detritos até chegar à rocha ou ao barro."

Os defensores da superstição e da pseudociência são seres humanos com sentimentos reais, que, tal como os céticos, tentam compreender como funciona o mundo. Antes de reagirmos contra o misticismo e a superstição, devemos usar uma análise de custos-benefícios. Se demonstramos muito ceticismo, podemos incentivar o azedume, sempre pouco produtivo. Mas se manifestarmos demasiado consentimento, ou silêncio, estamos a passar a ideia de que o ceticismo é indelicado, a ciência aborrecida e o pensamento racional e rigoroso é inadequado...Não é fácil, mas o mais prudente será procurar o equilíbrio entre estes dois pontos. Devemos presumir que a cultura não lhes forneceu todos os instrumentos para encetar o grandioso caminho do conhecimento. Mitiguemos, assim, as nossas críticas com simpatia.

Adaptado de Um mundo infestado de demónios, Carl Sagan

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