sábado, janeiro 04, 2014

Humanidade(s) - O aparecimento da consciência

Imaginemos os primeiros humanos...o que procuravam? Bem, em grande medida o mesmo que procuramos hoje: alimento, sexo, abrigo, segurança, conforto e um certo grau de dignidade. Feche os olhos por um instante e imagine esses antepassados remotos, talvez antes do aparecimento da linguagem, mas atentos e conscientes, já dotados de emoções e sentimentos, com a noção do que é estar triste e alegre, de sentir prazer ou sentir dor. Como expressavam esses estados? Talvez emitissem sons vocais  o que terá funcionado como que uma pressão seletiva sobre o cérebro, no sentido do desenvolvimento da linguagem.
Os estudos do Séc. XX sobre tribos isoladas confirmaram que também eram curiosos quanto a si próprios e contavam narrativas acerca da sua origem e do seu destino. Os primeiros humanos sentiriam afeição e atração pelos seus semelhantes e teriam conhecido a mágoa que advém da quebra desses laços. Teriam igualmente testemunhado momentos de alegria e de satisfação, êxito na caça, no acasalamento, na guerra... Esta descoberta sistemática do drama da existência humana só foi possível após o desenvolvimento pleno da consciência humana - uma mente com um "eu" autobiográfico.
Foi essa descoberta que terá estado na origem dos mitos para explicar a condição humana e seus processos: elaboração de convenções e regras sociais, início da moralidade, criação de narrativas religiosas a partir de mitos e elaboração de leis e regras. A elaboração de regras morais e de leis e o desenvolvimento de um sistema de justiça foi uma resposta à deteção de comportamentos instintivos que fazem perigar os indivíduos de um grupo.
Neste contexto não deve surpreender que as narrativas socioculturais fossem  buscar a sua autoridade aos seres míticos que se imaginava terem mais poder e conhecimento do que os humanos. Eram seres cuja existência explicava todo o tipo de problemas, facultavam o auxílio e podiam modificar o futuro...basta lembrar a profusão de deuses do antigo Egito, Mesapotâmia, Grécia, Roma e mesmo presentemente para se perceber esta visão...

Adaptado de O livro da Consciência, António Damásio

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