Há correntes e/ou ideias nas Ciências da Educação
que não têm fundamento (pelo menos até ao momento) na Neurociencia. De onde
terão surgidos esses “mitos”? Não se sabe muito bem. Um dos casos mais
conhecidos é o das chamadas inteligências múltiplas. Este modelo não tem razão
científica de existir, sendo até duvidoso o seu valor pragmático. O argumento
fundamental diz respeito à falta de evidência empírica que sustente a sua
formulação. Compreendendo a morfofisiologia neuronal apetece dizer que a repetição
mecânica promove a aprendizagem, mas deve evitar-se um salto concetual tão
grande. No entanto comprovou-se há muitos anos que se a ligação entre dois
neurónios funcionasse muitas vezes, ou seja, de forma repetitiva, essa sinapse
ficava mais sensível a esse sinal, fazendo com que a resposta fosse mais rápida
– o que poderemos chamar de aprendizagem. Assim não se sabe por que razão
nasceu o conceito de que os processos de memorização são contrários aos do
entendimento, ou seja, da inteligência. Diz-se que as crianças têm de
compreender e, por isso, não devem decorar. Trata-se de mais um mito que convém
contrariar: o cérebro necessita de ser estimulado com processos de memorização
e com processos de compreensão. Segundo Claude Lévi-Strauss todas as crianças
são criadoras, no que se refere às suas possibilidades, mas não à capacidade de
realização efetiva dessas possibilidades. Nesse sentido Qualquer processo
educativo necessita de disciplina. Como defende Fernando Savater, o
conhecimento tem de ser imposto, pelo menos nos primeiros anos de ensino. Não
perguntamos aos nossos filhos se quiseram nascer, ou se querem aprender.
Impusemos-lhe a humanidade, tal como a concebemos, da mesma maneira que lhe
impusemos a vida. Assim, o objetivo explícito do ensino é conseguir indivíduos
autenticamente livres. Ser livre é libertar-se da ignorância primeira. A
criança não sabe que ignora, quer dizer, não sente a falta de conhecimentos que
não tem. Neste contexto, Karl Popper defendeu que há sempre duas fases da
aprendizagem. Primeiramente, acumulam-se conhecimentos de forma sobretudo
acrítica. Em seguida questiona-se o aprendido. O não reconhecimento de uma
"fase dogmática" precedente da "fase crítica" é um dos
erros mais graves da pedagogia romântica. Para raciocinar criticamente sobre um
assunto é preciso começar por conhecê-lo. Pretendendo formar "estudantes
críticos" sem lhes fornecer a devida informação e treino, apenas se formam
ignorantes fala-barato. O que a neurociência nos diz em relação ao processo de
aprendizagem é que os dois fatores chave são a motivação e a relação
pedagógica. Partindo deles serão menos relevantes as estratégias de ensino
implementadas.
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