sexta-feira, abril 22, 2016

Neurociência e Pedagogia


Há correntes e/ou ideias nas Ciências da Educação que não têm fundamento (pelo menos até ao momento) na Neurociencia. De onde terão surgidos esses “mitos”? Não se sabe muito bem. Um dos casos mais conhecidos é o das chamadas inteligências múltiplas. Este modelo não tem razão científica de existir, sendo até duvidoso o seu valor pragmático. O argumento fundamental diz respeito à falta de evidência empírica que sustente a sua formulação. Compreendendo a morfofisiologia neuronal apetece dizer que a repetição mecânica promove a aprendizagem, mas deve evitar-se um salto concetual tão grande. No entanto comprovou-se há muitos anos que se a ligação entre dois neurónios funcionasse muitas vezes, ou seja, de forma repetitiva, essa sinapse ficava mais sensível a esse sinal, fazendo com que a resposta fosse mais rápida – o que poderemos chamar de aprendizagem. Assim não se sabe por que razão nasceu o conceito de que os processos de memorização são contrários aos do entendimento, ou seja, da inteligência. Diz-se que as crianças têm de compreender e, por isso, não devem decorar. Trata-se de mais um mito que convém contrariar: o cérebro necessita de ser estimulado com processos de memorização e com processos de compreensão. Segundo Claude Lévi-Strauss todas as crianças são criadoras, no que se refere às suas possibilidades, mas não à capacidade de realização efetiva dessas possibilidades. Nesse sentido Qualquer processo educativo necessita de disciplina. Como defende Fernando Savater, o conhecimento tem de ser imposto, pelo menos nos primeiros anos de ensino. Não perguntamos aos nossos filhos se quiseram nascer, ou se querem aprender. Impusemos-lhe a humanidade, tal como a concebemos, da mesma maneira que lhe impusemos a vida. Assim, o objetivo explícito do ensino é conseguir indivíduos autenticamente livres. Ser livre é libertar-se da ignorância primeira. A criança não sabe que ignora, quer dizer, não sente a falta de conhecimentos que não tem. Neste contexto, Karl Popper defendeu que há sempre duas fases da aprendizagem. Primeiramente, acumulam-se conhecimentos de forma sobretudo acrítica. Em seguida questiona-se o aprendido. O não reconhecimento de uma "fase dogmática" precedente da "fase crítica" é um dos erros mais graves da pedagogia romântica. Para raciocinar criticamente sobre um assunto é preciso começar por conhecê-lo. Pretendendo formar "estudantes críticos" sem lhes fornecer a devida informação e treino, apenas se formam ignorantes fala-barato. O que a neurociência nos diz em relação ao processo de aprendizagem é que os dois fatores chave são a motivação e a relação pedagógica. Partindo deles serão menos relevantes as estratégias de ensino implementadas.

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