Os
meus pais não tinham formação científica nem sabiam nada de Ciência. Mas, ao
porem-me simultaneamente em contacto com o ceticismo e o deslumbramento,
ensinaram-me os dois tipos de pensamento que estão na base do conhecimento
científico e que são tão difíceis de conciliar. Embora vivessem a um passo da
pobreza, quando anunciei que queria ser astrónomo, recebi um apoio
incondicional. Gostaria, também, de falar dos professores de Ciências que me
estimularam na escola Primária ou no Liceu. Quando recordo esses tempos, vejo
que não existiu nenhum. Havia uma memorização maquinal dos conteúdos. Não havia
um sentimento de exultação e de deslumbramento, o menor vestígio de
evolucionismo e nada sobre ideias erradas em que em tempos toda a gente
acreditara. Na universidade os meus sonhos tornaram-se realidade: encontrei
professores que não só compreendiam a Ciência, como também eram capazes de a
explicar. Mas ao olhar para trás, parece-me que o essencial não aprendi com os
professores, mas com os meus pais, que não sabiam nada de Ciência...No ano de
1939, levaram-me à feira mundial de Nova Yorque, onde pude desfrutar das
últimas maravilhas da tecnologia - fiquei deslumbrado. Os meus pais poderiam
ter gasto o dinheiro noutras prioridades, mas levaram-me à dita feira...
Adaptado
de Um mundo infestado de demónios, Carl Sagan
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