domingo, outubro 18, 2015

da Beleza



Ao contrário de Narciso, que ficou extasiado com o seu reflexo na água, quando Dante olha o rio Lete não suporta ver-se e afasta a vista, mortificado…
Depois de descer às profundezas do Inferno e ascender às cornijas do Purgatório, Dante descobre a própria identidade, porém esta é-lhe revelada não pela enunciação do seu nome mas pelo reflexo da sua imagem… Fitamos os ecrãs dos aparelhos electrónicos com a mesma intensidade e constância que Narciso fitava o lago, como que à procura da nossa identidade…quando devíamos procura-la era dentro de nós...

Torna-se pertinente uma pequena fábula de Óscar Wilde:

“Quando Narciso morreu, o lago mudou as suas águas. Pensaram que o tinha feito para presentear a morte de Narciso, e questionaram o lago.
- Mas Narciso era belo? Perguntou o lago.
- Quem o saberá melhor do que tu? Perguntaram as Oréades.
 Por nós passava ele sempre mas era a ti que buscava e nas tuas margens se deitava e para ti olhava e via refletida a sua beleza.
E o lago respondeu: Mas eu amava Narciso porque, quando ele se deitava nas minhas margens e me fitava, no espelho dos seus olhos, eu via sempre a minha beleza refletida."

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