Ao
contrário de Narciso, que ficou extasiado com o seu reflexo na água, quando
Dante olha o rio Lete não suporta ver-se e afasta a vista, mortificado…
Depois
de descer às profundezas do Inferno e ascender às cornijas do Purgatório, Dante
descobre a própria identidade, porém esta é-lhe revelada não pela enunciação do
seu nome mas pelo reflexo da sua imagem… Fitamos
os ecrãs dos aparelhos electrónicos com a mesma intensidade e constância que
Narciso fitava o lago, como que à procura da nossa identidade…quando devíamos procura-la era dentro de nós...
Torna-se
pertinente uma pequena fábula de Óscar Wilde:
“Quando
Narciso morreu, o lago mudou as suas águas. Pensaram que o tinha feito para
presentear a morte de Narciso, e questionaram o lago.
-
Mas Narciso era belo? Perguntou o lago.
-
Quem o saberá melhor do que tu? Perguntaram as Oréades.
Por
nós passava ele sempre mas era a ti que buscava e nas tuas margens se deitava e
para ti olhava e via refletida a sua beleza.
E
o lago respondeu: Mas eu amava Narciso porque, quando ele se deitava nas minhas
margens e me fitava, no espelho dos seus olhos, eu via sempre a minha beleza
refletida."
Sem comentários:
Enviar um comentário