sexta-feira, agosto 07, 2015

Desertos

A razão principal é que já não há muita gente que tenha tempo a perder com o deserto. Viajam antes em massa para onde toda a gente vai e todos se encontram. Todos têm terror do silêncio e da solidão e vivem a bombardear-se de telefonemas, mensagens escritas, mails e contactos no Facebook e nas redes sociais da net, onde se oferecem como amigos a quem nunca viram na vida.
Em vez do silêncio, falam sem cessar; em vez de se encontrarem, contactam-se, para não perder tempo; em vez de se descobrirem, expôem-se logo por inteiro. E todos são bonitos, jovens, divertidos, "leves", disponíveis, sensíveis e interessantes. E por isso é que vivem esta estranha vida: porque, muito embora julguem poder ter o mundo aos pés, não aguentam nem um dia de solidão. Eis porque já não há ninguém a atravessar o deserto. Ninguém capaz de enfrentar toda aquela solidão.
Adaptado de No teu deserto, Miguel Sousa Tavares


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