domingo, julho 27, 2014

Nervo laríngeo - desígnio inteligente ou evolução?

Este nervo resulta da ramificação de um nervo craniano que provém directamente do cérebro em vez da espinal medula. O nervo craniano, o vago, tem vários ramos, 2 dos quais dirigem-se ao coração e 2 laterais à laringe. Em ambos os lados do pescoço, um dos ramos do nervo laríngeo dirige-se à laringe, seguindo um percurso direto tal como seria escolhido por um projetista. O outro dirige-se à laringe mas realiza um desvio surpreendente. Mergulha no tórax, circunda uma das principais artérias que sai do coração e depois regressa ao pescoço para terminar a viagem. Enquanto resultado de um projeto, este nervo seria um disparate. Do ponto de vista evolutivo faz todo o sentido, mas para o compreender precisamos de recuar ao tempo em que os nossos antepassados eram peixes. Os embriões humanos com cinco semanas assemelham-se a peixes com
brânquias. Num embrião humano com vinte e seis dias vemos que o abastecimento sanguíneo às "brânquias" se assemelha fortemente ao abastecimento sanguíneo às brânquias de um peixe. Estas ramificações procuram os seus órgãos-alvo, as brânquias, pelo caminho mais direto e lógico. Durante a evolução dos mamíferos, contudo, o pescoço cresceu (os peixes não o têm) e as brânquias desapareceram, evoluindo para tiróide, paratiróide e laringe. Estes órgãos
herdaram o abastecimento que outrora servia as brânquias. Durante a evolução dos mamíferos os nervos e vasos sanguíneos foram puxados e esticados em direções diversas. No tubarão esse nervo laríngeo não apresenta desvio, já na girafa (que melhor exemplo se poderia arranjar para esta situação?!), este nervo tem um desvio de 4 metros. Na sua jornada descendente, o nervo passa perto da laringe, que é o seu destino final. Todavia continua para baixo, percorrendo todo o pescoço antes de inverter o sentido e fazer o caminho de volta até esta. Isto exemplifica na perfeição como os seres vivos estão longe de terem sido bem projetados e refuta consistentemente a ideia de um projetista inteligente...


Adaptado de O espectáculo da vida, Richard Dawkins


3 comentários:

Wander disse...

Haha citar Dawkins é mesmo pedir para perder toda credibilidade...

Diferente do que esse evangelista do ateísmo/antiteísmo clama, o nervo recorrente laríngeo esquerdo tem razões funcionais e projetuais abundantes para não tomar a rota mais curta e direta de volta ao cérebro, seja por causa de fatores ligados ao desenvolvimento fetal, seja por razões de segurança (especialistas demonstram que a atual rota do mesmo o torna menos suscetível a lesões do que caso seguisse uma trilha mais direta), seja pelo fato de ter de se ramificar dentro da caixa torácica, alimentando diversos orgãos e músculos com feixes nervosos, seja por "backup", aonde rotas alternativas e duplicadas garantem que partes abastecidas pelos nervos tenham contato com o nervo, ainda que um dos feixes seja danificado/defeituoso, etc..

José Lourenço disse...

Caro Wall BS Betel, agradeço a visita e o comentário.

Também não aprecio a incursão do Dawkins no campo da teologia, mas gosto muito de tudo o que escreve na área da Biologia (O gene egoísta, O relojoeiro cego, O espectáculo da vida...). A sua formação base foi Zoologia, em Oxford...presumo que saiba umas coisitas sobre o assunto.

De qualquer forma tenho sempre bem presente o conceito de falsificabilidade de Karl Popper, assim como os 10 mandamentos do código de conduta de Bertrand Russel...Nesse sentido sei que a Ciência não é perfeita, mas é o melhor que temos...

Cumprimentos
JL

Fabio disse...

+Wall BS Betel: quais são as fontes de suas afirmações ?