domingo, março 23, 2014

Ciência e Pseudociência Vs Cultura e Pseudocultura















Preocupamo-nos com a verdade? Isso tem alguma importância? 
Eu não tenho dúvidas que tem!

A pseudociência é mais fácil de forjar do que a ciência pois os confrontos com a realidade são mais fáceis de evitar. A pseudociência dirige-se às necessidade emocionais (sistema límbico do indivíduo) que a ciência muitas vezes deixa sem resposta. Mas não será melhor apreender o Universo tal como ele é, do que como gostaríamos que ele fosse? Na dúvida, devemos tentar perceber qual das posições nos dará mais poder para decidir sobre o nosso futuro…

A pseudociência anda de mão dada com a ignorância. Umberto Eco em “A passo de caranguejo”  fala mesmo em retrocesso civilizacional, que se verificou após os ataques do 11 de Setembro de 2001. Já no século passado, Leon Trotsky havia descrito assim o fenómeno “Não só nos lares camponeses, mas também nos arranha-céus das cidades, coabitam o Séc. XX e o Séc. XIII. 100 milhões de pessoas utilizam a electricidade e ainda acreditam nos poderes mágicos dos signos e nos exorcismos (…) Que reservas inesgotáveis possuem eles de trevas, ignorância e selvajaria…” Também Shakespeare dizia que "O Homem é uma cabeça tonta”, por isso se torna necessário o rigor cético e inflexível da ciência...
A Ciência alimenta-se de erros, que vai eliminando. Tira falsas conclusões, mas tira-as provisoriamente. Formula hipóteses para poder refutá-las. Pode avançar às apalpadelas e em passos hesitantes, mas avança em direcção a um conhecimento mais perfeito. Não há questões interditas, nem assuntos demasiado sensíveis e delicados para serem experimentados, nem verdades sagradas. A crítica é aceitável e desejável. Os cientistas não procuram impor as suas necessidades e desejos à natureza, mas, em vez disso, interrogam-na com humildade, procurando descobrir falhas no conhecimento dado como adquirido. Não confiam no que é “óbvio” (caso contrário ainda acreditávamos que o Sol girava à volta da Terra, a título de exemplo). Essa abertura a novas ideias, associada ao exame mais rigoroso e cético, separa o trigo do joio.

Só que o ceticismo não vende…

No passado não vendia devido a uma maioria analfabeta, inculta e radicalmente religiosa. Presentemente não vende, pois o mundo está virado para uma cultura de frivolidade e de resultados rápidos…Vargas Llosa na “Civilização do espetáculo” clarifica isto muito bem. Segundo o autor a cultura atual tem por intenção divertir e dar prazer, sem necessidade de qualquer formação, sem referentes culturais concretos e eruditos. A indústria cultural transformou-se num artigo de consumo de massas. Esta cultura nasce com o predomínio da imagem e do som, sobre a palavra. Em vez de um interesse genuíno pelo passado, esta cultura dispensa um estudo aprofundado e competente do mesmo, dando uma (falsa) ideia de conhecimento e domínio das temáticas. A cultura é diversão e o que não é divertido não é cultura. Também a distinção entre preço e valor eclipsou-se, e as duas coisas são agora uma só, em que o primeiro absorveu o segundo – o único valor é o comercial e é fixado pelo mercado. A frivolidade consiste em ter uma tabela de valores invertida ou desequilibrada em que a forma importa mais do que o conteúdo, a aparência mais do que a essência e a representação substituiu os sentimentos e as ideias. Os espectadores não têm memória e por isso nem consciência nem remorsos. Vivem presos à novidade e ao escândalo, não importa quais sejam. Esquecem rapidamente e passam sem pestanejar das cenas de morte e destruição da guerra na Síria, às curvas da Madonna ou fintas do Cristiano Ronaldo. Neste contexto neoliberal (cultural) é normal que os intelectuais optem pela discrição ou pela abstenção do debate público.
Ainda de acordo com Llosa, o que chamamos cultura foi de tal forma adulterado que todos podem justificadamente julgar que são cultos… Hoje já ninguém é inculto ou, melhor dizendo, somos todos cultos…mesmo que não tenhamos lido nunca um livro, nem visitado uma exposição de pintura, ouvido um concerto nem adquirido algumas noções básicas de conhecimentos humanistas, científicos e tecnológicos do mundo em que vivemos...

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