A miséria humana que se pode evitar é quase sempre causada pela estupidez e pela ignorância. Os seres humanos podem ansiar por certezas absolutas e aspirar a elas; podem pretender, como fazem os adeptos de certas religiões, tê-las atingido. A Ciência está longe de ser um instrumento de conhecimento perfeito. É apenas o melhor de que dispomos. A Ciência ensina-nos que o máximo que podemos esperar são melhoramentos sucessivos na nossa compreensão, na aprendizagem a partir dos nossos erros.
A Ciência pode ser difícil de compreender. Pode desafiar convicções que nos eram queridas, mas transporta-nos na direção de uma compreensão de como é o mundo e não do como gostaríamos que ele fosse. Para a Ciência não há questões interditas, nem assuntos demasiado sensíveis ou delicados para serem experimentados, nem verdades sagradas. Essa abertura a novas ideias, associada ao exame mais rigoroso e céptico, separa o trigo do joio. Há mais uma faceta que a caracteriza - a crítica é aceitável ou mesmo desejável.
Sei pessoalmente como é gratificante quando a entendemos, quando de súbito temas obscuros adquirem significado, quando percebemos aquilo que tanto nos intrigava. Quando reconhecemos o nosso lugar numa imensidão de anos-luz e na passagem dos séculos, quando aprendemos a complexidade, a beleza e a subtileza da vida, esses sentimentos de exaltação, de júbilo e de humildade associados são sem dúvida espirituais. A ideia de que a Ciência e a Espiritualidade se excluem mutuamente presta um mau serviço a ambas...
Adaptado de "Um mundo infestado de demónios", Carl Sagan
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