quarta-feira, abril 17, 2013

A mitologia da criança criadora



Segundo Claude Lévi-Strauss todas as crianças são criadoras, no que se refere às suas possibilidades, mas não à capacidade de realização efetiva dessas possibilidades. Nesse sentido Qualquer processo educativo necessita de disciplina. É disparatado aplicar o princípio democrático segundo o qual tudo é decidido entre iguais, porque as crianças não são iguais aos seus professores. Para que cheguem a ser iguais em conhecimentos e autonomia, é que estão a ser educados. Como defende Fernando Savater, o conhecimento tem de ser imposto, pelo menos nos primeiros anos de ensino. Não perguntamos aos nossos filhos se quiseram nascer, ou se querem aprender. Impusemos-lhe a humanidade, tal como a concebemos, da mesma maneira que lhe impusemos a vida.  
O objetivo explícito do ensino é conseguir indivíduos autenticamente livres. Ser livre é libertar-se da ignorância primeira. A criança não sabe que ignora, quer dizer, não sente a falta de conhecimentos que não tem. Karl Popper defendeu que há sempre duas fases da aprendizagem. Primeiramente, acumulam-se conhecimentos de forma sobretudo acrítica. Em seguida questiona-se o aprendido. O não reconhecimento de uma "fase dogmática" precedente da "fase crítica" é um dos erros mais graves da pedagogia romântica. Para raciocinar criticamente sobre um assunto é preciso começar por conhecê-lo. Pretendendo formar "estudantes críticos" sem lhes fornecer a devida informação e treino, apenas se formam ignorantes fala-barato.

2 comentários:

Rui Areal disse...

A criação precisa de materiais. Sem conhecer os materiais, nada de novo se pode criar.

José Lourenço disse...

Exato Rui.

O ato criativo exige um percurso prévio de acunulação de conhecimentos...por isso é que as outras espécies podem ter materiais à sua frente e são incapazes das realizações da nossa.

Abraço