O filósofo Onésimo Teotónio de Almeida, no seu livro "de Marx a Darwin" tem uma passagem deliciosa que nos alerta para os perigos da ignorância e que a seguir se resume:
Nutro especial simpatia por figuras como a do João dos ovos, uma castiça figura popular de Angra do Heroísmo nos anos sessenta. Encostado ao guarda-vento da sé de Angra, ouvia o cónego Jeremias desfiar sobre o casamento e os deveres conjugais, enumerando as obrigações dos dois conjuges. (...) O João dos ovos não conteve um aparte: "Vê-se logo que nunca andaste de avião!". O João também nunca tinha andado e nem casado era. Não foi por isso da arrogância de possuir um conhecimento superior ao do bom cónego que brotou o seu comentário irónico. Tal como a raposa preferida de Isiah Berlin, assistiam-lhe mais do que razões para topar a ignorância do elenco de que enfermava o sacro orador.
As aplicações práticas ou a moral da história não me competem a mim. Logo no início eu prometi que me ficaria pelo tratamento da ignorância do ponto de vista epistemológico e não entraria nos terrenos movediços da ética - Até porque não sou de modo nenhum imune ao perigo de fazer de cónego Jeremias...
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