domingo, novembro 11, 2012

As Raízes da Crise

“A riqueza só é condenável enquanto tentação do ócio e do gozo pecaminoso da vida. Enquanto exercício do dever profissional, ela é não só moralmente permitida, como até aconselhada. (…) O ascetismo lutou ao lado da produção de riqueza privada tanto contra a deslealdade como contra a ganância instintiva, isto é, procura da riqueza com o fim único de ser rico.
(…) Há um aspeto muito importante que é a valoração religiosa do trabalho profissional incessante, continuado e sistemático como meio de ascese mais eficaz… esta foi a alavanca que esteve na génese que designámos por “espírito do capitalismo”. Se a par desta liberdade do desejo do lucro pusermos a limitação do consumo, o resultado está á vista: a formação de capital através da coação ascética à poupança. (…) Receio que, sempre que a riqueza aumenta, diminui o valor da religião em igual medida. A religião produz esforço e sobriedade e estas só podem causar riqueza. Mas quando aumenta a riqueza, aumenta também a vaidade, a paixão e o amor pelo mundo em todas as suas formas.
(…) Esta motivação radicalmente ascética do estilo de vida burguês, foi o que na sua sabedoria nos quis mostrar Goethe na sua obra Wanderjahre e no fim que deu ao seu Fausto. Para ele, esta constatação significa a despedida de um período da humanidade pleno e belo, que na evolução cultural não voltará a repetir-se, tal como não se repetirá o florescimento ateniense clássico.
(…) O capitalismo triunfante, após ter adquirido bases mecânicas, já não precisa desse apoio. A ideia do dever profissional ronda a nossa vida como um fantasma dos conteúdos religiosos do passado. A procura de riqueza, no lugar de maior desenvolvimento, os Estados Unidos, tende, despida do seu sentido ético-religioso, a associar-se a paixões competitivas, que lhe conferem não raro o carácter de desporto. Ainda ninguém sabe quem habitará essa estrutura vazia no futuro e se, ao cabo desse desenvolvimento brutal, haverá novas profecias ou um renascimento vigoroso dos antigos pensamentos e ideais. Ou se, não se verificarem nenhum desses dois casos, tudo desembocará numa petrificação mecânica, coroada de uma auto-afirmação convulsiva. Neste caso, para os últimos homens dessa fase da civilização, tornar-se-ão verdade as seguintes palavras: “Especialistas sem espírito, folgozões sem coração: estes nadas pensam ter chegado a um estádio da humanidade nunca antes atingido.”


Quem escreveu isto?

Foi Max Weber no seu “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, em 1905...grande visionário!

Muitas vozes têm lutado contra o status quo vigente. Edgar Morin, entre outros, defendeu em 2009 a necessidade de mudar de paradigma: http://www.publico.pt/Educa%C3%A7%C3%A3o/edgar-morin-defendereforma-radical-no-ensino-para-acabar-com-hiperespecializacao-1381155.

Três apontamentos:

Em primeiro lugar penso ser interessante (em relação à Europa) identificar quais são os países maioritariamente protestantes e quais não o são… curioso, não é...

Em segundo lugar convém tomar consciência de que os recursos naturais são finitos e, como tal, incapazes de acompanhar a galopante pegada ecológica (resultante de um capitalismo desenfreado e selvagem).

Por fim (e sem pretender desculpar os políticos nacionais, pelo contrário) devemos compreender que depois da queda da cortina de ferro - que funcionava como um tampão aos fluxos financeiros mundiais -, o neoliberalismo selvagem, de carácter desportivo, como refere Weber, alastrou mundialmente e arrastou-nos para onde nos encontramos hoje:  “especialistas sem espírito, folgozões sem coração” - uns nadas, cheios de nós mesmos...

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