domingo, dezembro 20, 2009

da Ignorância_I


O proclamado ateísmo de alguns darwinistas e de outros materialistas modernos é uma profissão de fé com o mesmo estatuto epistemológico que a fé muçulmana, cristã, judaica ou outra qualquer. Para ser coerente, a Ciência não deve ultrapassar as suas fronteiras nem postular dogmas metafísicos. Parafraseando Confúcio «sobre aquilo que não podemos falar devemos manter-nos em silêncio.»
Darwin e os neodarwinistas podem lembrar-nos a selva de onde viemos, mas não conseguirão nunca garantir-nos que temos nela obrigatoriamente e, para sempre, de viver.
É crucial evitar abusos resultantes da ignorância, arrogância e prepotência, males que costumam afectar os crentes prosélitos, tanto os religiosos como os ateus...
Adaptado de De Marx a Darwin, Onésimo Almeida

4 comentários:

João disse...

Lourenço:

"O proclamado ateísmo de alguns darwinistas e de outros materialistas modernos é uma profissão de fé"

Isto é falso. A Fé não é uma crença justificada. O ateísmo é.

A ciencia permite-te explicar a maior parte do mundo observavel e até algum do ainda não observado com um grau de precisão elevado.

Pode explicar fenomenos que ocorreram muito perto do inicio deste universo.

E pode por questões válidas, bem definidas sobre entidades ainda não testadas mas com suporte plausivel.

Pode-se ainda, racionalmente e cientificamente, excluir aquilo que é indistinguivel de fantasia.

O pensamento critico e cientifico incluiem a capacidade de provar uma negativa. Quer seja para Deuses, Duendes, Cavalos alados, fadas ou pais Natais - Entidades que sem esta ferramenta te vêz forçado a admitir que podem existir.

Mas como o meu ultimo post foi precisamente como provar uma negativa eu vou abordar este assunto de outro modo.

Em ciencia, aplicam-se os principios de simplicidade. A saber, a lei da economia e a parsimonia ontologica.

Aristoteles foi quem a enunciou primeiro na sua forma mais elegante: "As entidades não devem ser replicadas para além do necessário". Isto é a parsimónia ontologica. A lei da economia diz: "As explicação mais simples entre iguais no poder explicativo é provavelmente a melhor".

O primeiro principio de simplicidade pode ser provado racionalente, o segundo só pela experiencia. De facto são ambos extremamente fecundos do ponto de vista cientifico. E são utilizadosx em investigaçao criminal, em medicina, para nomear uns quantos.

Portanto, se Deus não é uma entidade que precisas objectivamente para explicar um fenomenos, é errado atribuir-lhe uma participação nesse fenomeno.

Se podes explicar uma coisa sem recorrer a um entidade, não faz sentido dizer que ela faz parte do fenomeno.

Como dizer que há duendes na gazolina que validam a capacidade expliziva desta, que estão em todas as gazolinas e sem os quais a quimica basica não se aplicaria.

João disse...

Não faz sentido atribuir a Deuses, duendes, fadas etc, o que pode ser explicado sem a sua intervenção.

E a ciencia explica quase tudo o que tu vez. E muito do que não vez.
O facto de haver ainda muito por explicar, não quer dizer que possas assumir que o que se sabe esta errado.

Mesmo que não saibas como extrair manualemnte a raiz cubica de 40032, pode bem acontecer que saibas extrair 1 a 2.

Naquilo que sabemos, não há Deuses. Nem este, nem outro. A não ser que consideres Deus, o próprio universo. Mas então lá se vai o sentido de intencionalidade e consciencia atribuido a Deus.

O que te sobra perante o conhecimento cientifico, é um grande "apelo à ignorancia". Que +e o que nos acusas.

Mas o "apelo à ignorancia", de tentar aquilo que não sabemos para fazer passar o conceito de Deus é de quem diz que o que não sabemos justifica existir um Deus.

É de facto errado justificar uma ideia com aquilo que não se sabe. Por isso eu justifico que Deus não existe com aquilo que se sabe.

Naturalmente, não podes ter a certeza. Mas isso é uma resalva que deixo agora para o fim e que é cansativa estar a fazer a todo o momento.

Mas certezas, nunca há.

Apenas preposições justificaveis e plausiveis.

A ciencia não é acerca de certezas. É acerca da melhor explicação possivel. Mas ela explica quase tudo sem recorrer a DEuses. E isso incomoda muita gente.

Não é de facto justificavel introduzir um Deus interventivo, omniscienciente, omnipotente, omnipresente bom e justo, para compreender o nosso universo.

Todas as tentivas nesse sentido passam por ser apelos à ignorancia, wishfull thinking ("ai era tão bom se A fosse verdade logo A deve ser verdad..") ou sofimas como a trilogia criacionista que presume que só Deus pode ter criado um codigo ou a Agostiniana que tudo tem de ter um criador mais complexo (mas força a excepção para Deus como se isso não violasse a própria permissa).

Em resumo:

Deus provavelmente não existe. Mas a culpa não é minha. Constatar isso não é ignorancia.

Feliz Natal

José Lourenço disse...

Viva João.

Concordo praticamente com tudo o que escreves.

Gostaria de fazer duas ressalvas:
1 - o texto não é da minha autoria, como tal, apesar de o ter postado no blogue, não quer dizer que concorde com ele na totalidade; Por exempolo: A frase do confúcio não é para levar à letra, pois seria uma contradição em relação ao que deve ser a postura da Ciência (pois, caso contrário, ainda estaríamos na idade da pedra);
2 - O post tem um outro objectivo que não pretendo revelar.

De qualquer forma faz-me alguma confusão a necessidade que o Homem tem de se autocatalogar. Não pode simplesmente não "SER NADA", em vez de ser ateu, agnóstico, ou teísta?
Conheço pessoas que não têm simpatia, não conhecem sequer, nenhum clube de futebol - eu respeito essa posição...e sabemos que os clubes de futebol exisem! Mas estão no seu direito de "não ser nada", PONTO.
Ser-se ateu não é o mesmo que "não ser nada", pois está no patamar oposto ao crente...já o agnóstico está no meio termo (não que seja melhor ou pior, mas parece-me uma posição menos fundamentalista)!
O ateísmo e o seu oposto criam demasiada entropia...e o Universo não quer saber das nossas entropias para nada, pois para ele é isso que somos: NADA (ou melhor, somos átomos e moléculas, oriundos de reacções estelares, organizados de uma forma peculiar a que chamamos vida, vida essa, que a entropia um dia levará de volta ao cosmos)!


Saudações

João disse...

Lourenço:

Sim, podes não ter sequer intenção de formar crença e ficares à margem como espectador passivo.

A maior parte dos ateus são realmente agnosticos. Que não é o mesmo de não ter crença, como bem dizes.

Não existem muitos ateus puros. Mas é dificil estar a fazer sempre a ressalva quando se argumenta. Não por questões racionais mas porque origina textos mais densos e frases compridas.

Eu sou realmente agnostivo. A hipotese deus nunca sai da minha cabeça. Apenas vou-me aprecebendo que não é a hipotese correta.