domingo, janeiro 15, 2017

Nervo laríngeo - desígnio inteligente ou evolução?



Este nervo resulta da ramificação de um nervo craniano que provém diretamente do cérebro em vez da espinal medula. O nervo craniano, o vago, tem vários ramos, 2 dos quais dirigem-se ao coração e 2 laterais à laringe. Em ambos os lados do pescoço, um dos ramos do nervo laríngeo dirige-se à laringe, seguindo um percurso direto tal como seria escolhido por um projetista. O outro dirige-se à laringe mas realiza um desvio surpreendente. Mergulha no tórax, circunda uma das principais artérias que sai do coração e depois regressa ao pescoço para terminar a viagem. Enquanto resultado de um projeto, este nervo seria um disparate. Do
ponto de vista evolutivo faz todo o sentido, mas para o compreender precisamos de recuar ao tempo em que os nossos antepassados eram peixes. Os embriões humanos com cinco semanas assemelham-se a peixes com brânquias. Num embrião humano com vinte e seis dias vemos que o abastecimento sanguíneo às "brânquias" se assemelha fortemente ao abastecimento sanguíneo às brânquias de um peixe. Estas ramificações procuram os seus órgãos-alvo, as brânquias, pelo caminho mais direto e lógico. Durante a evolução dos mamíferos, contudo, o pescoço cresceu (os peixes não o têm) e as brânquias desapareceram, evoluindo para tiróide, paratiróide e laringe. Estes órgãos herdaram o abastecimento que outrora servia as brânquias. Durante a evolução dos mamíferos os nervos e vasos sanguíneos foram puxados e esticados em direções diversas. No tubarão esse nervo laríngeo não apresenta desvio, já na girafa (que melhor exemplo se poderia arranjar para esta situação?!), este nervo tem um desvio de 4 metros. Na sua jornada descendente, o nervo passa perto da laringe, que é o seu destino final. Todavia continua para baixo, percorrendo todo o pescoço antes de inverter o sentido e fazer o caminho de volta até esta. Isto exemplifica na perfeição como os seres vivos estão longe de terem sido bem projetados e refuta consistentemente a ideia de um projetista inteligente…

Adaptado de O espectáculo da vida, Richard Dawkins





 

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