No mundo antigo a
crença nos demónios era generalizada. Eram tidos como seres naturais e não
entidades sobrenaturais. Hesíodo refere-se-lhes de passagem. Sócrates (o grego)
também. Platão, o mais célebre aluno de
Sócrates atribuía um importante papel aos demónios. Ele negou firmemente que os
demónios fossem uma fonte de mal e representou "Eros", detentor de
paixões sexuais, como um demónio - nem mortal, nem imortal; nem bom, nem mau.
Todos os platónicos posteriores, incluindo os neoplatónicos, que influenciaram
a filosofia cristã, consideraram que alguns demónios eram bons e outros maus.
Os primeiros padres da igreja, apesar de terem
absorvido o neoplatonismo, estavam desejosos de se separar dos sistemas de
crenças "pagãos". Na "Cidade de Deus", S.º Agostinho
assimila esta tradição antiga (deuses ocupam regiões elevadas, os homens as
mais baixas e os demónios a região do meio...têm imortalidade do corpo, mas as
paixões do espírito em comum com os homens), substitui deuses por Deus e
demoniza os demónios - afirmando que estes são, sem exceção, malignos. São a
fonte de todo o mal espiritual e material. Podem assumir diversas formas e
saber muitas coisas - "demónio" significa "conhecimento" em
grego ("Ciência" significa "conhecimento" em latim...)
Os demónios, "as potências do ar" descem
dos céus e têm relações sexuais ilícitas com as mulheres. St.º Agostinho
considerava que as bruxas eram o produto dessas uniões proibidas. As obsessões
com os demónios começaram a atingir um crescendo, quando com a sua famosa bula
de 1484, o papa Inocêncio VIII, desencadeou um movimento de acusação, tortura e
execução sistemática de inúmeras "bruxas" em toda a Europa. Apesar da
bula se referir a ambos os sexos, as perseguições recaíram maioritariamente
sobre as mulheres.
Mesmo humanistas como Erasmo e Thomas More
acreditavam em bruxas. O papa encarregou Kramer e Sprenger de escreverem sobre
a temática. Estes, com citações exaustivas das escrituras, e de outros
eruditos, produziram o "Malleus Maleficarum" - apropriadamente
descrito como um dos documentos mais terríveis da história da humanidade. O
Malleus resumia-se, em grande medida, à regra de que se uma mulher fosse acusada
de bruxaria, era uma bruxa. A tortura era um meio infalível de demonstrar a
validade da acusação.
Isto tornou-se rapidamente um meio de fraude
financeira. Todos os custos com o processo ficavam a cargo da acusada. Para
além disso, cada bruxa era obrigada a denunciar outras. O número de acusadas
cresceu exponencialmente. Havia ainda um bónus para os membros do tribunal por
cada bruxa queimada. Se houvesse remanescentes, era dividido entre a igreja e o
estado. O papa Inocêncio VIII morreu em 1492, após tentativas infrutíferas de o
manter vivo com transfusões (que provocaram a morte a 3 rapazes) e
amamentando-o ao peito de uma ama. Foi chorado pela amante e pelos filhos.
Os julgamentos davam muita atenção à qualidade e
quantidade de orgasmos nas supostas cópulas das rés com o Diabo (embora St.º
Agostinho tenha sido peremptório ao afirmar que não se pode chamar
"fornicador" ao diabo, bem como à natureza do "membro" do
Diabo (que é frio... ). As marcas do Diabo eram encontradas nas partes íntimas
das senhoras. Raspavam-se os pêlos púbicos e os inquisidores, exclusivamente
homens, inspecionavam ao pormenor os órgãos genitais das acusadas. Não eram
admitidas circunstâncias atenuantes nem testemunhas de defesa.
As execuções alastraram por toda a Europa - o continente
civilizado - e ninguém sabe ao certo o número de pessoas assassinadas. Os
críticos da imolação das bruxas eram castigados e, em alguns casos, queimados
na fogueira. Os inquisidores e torturadores estavam a executar a obra de
Deus...estavam a salvar as almas e a repelir os demónios...
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