Quando vislumbramos a região de PENHA GARCIA,
da aldeia de MONSANTO, sobressai na planura a serra do Ramiro,
prolongada na serra da Gorda. Este relevo esconde um outro alinhamento,
correspondente às serras da Ribeirinha e da Cacheira. As duas
cristas, constituídas por rochas muito resistentes à erosão – os
quartzitos –, datadas do Arenigiano (490 a 480 milhões de anos) e
formadas a partir da deposição de sedimentos no litoral, correspondem
aos flancos da grande dobra em U que, irrompendo da campina raiana em
Aranhas, se prolonga quase ininterruptamente muito para além da
fronteira, atravessando várias províncias espanholas. São os testemunhos
residuais de uma colisão continental que, há mais de 300 milhões de
anos, terá constituído, deformado e levantado, em grande extensão, o que
é hoje o território continental português. Em Penha Garcia, a ausência
de fósseis esqueléticos contrasta com a abundância e a diversidade em
vestígios de actividades paleobiológicas (icnofósseis), distribuídos por
toda a formação quartzítica. Os mais notáveis são pistas do tipo
Cruziana, resultado da escavação do substrato, por acção dos apêndices
locomotores de trilobites, na tentativa de obtenção de alimento.
Trata-se de sulcos essencialmente horizontais, bilobados, com uma crista
central mais ou menos definida, apresentando intrincados padrões
ornamentais de estrias. A tectónica fez um trabalho magnífico em Penha
Garcia; verticalizou grandes lajes com inúmeros icnofósseis,
particularmente Cruziana, que só muito mais tarde foram expostas pelo
encaixe do rio Pônsul. Alguns dos exemplares de Cruziana aqui
encontrados figuram entre os mais bem preservados que se conhecem a
nível mundial e alguns deles impressionam pelas suas dimensões,
sugerindo terem sido produzidos por animais com cerca de 0,5 m de
comprimento.
Adaptado de Carvalho, C. N. in Geonovas, n.º 18, 200
Adaptado de Carvalho, C. N. in Geonovas, n.º 18, 200
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