O (neo)darwinismo parece necessitar mais de ser defendido do que outras verdades, identicamente estabelecidas, de outros ramos da ciência. Muitos de nós não aprendemos a teoria quântica, ou a teoria da relatividade restrita e geral de Einstein, mas isso, por si só, não nos leva a opor-nos a estas teorias! Porquê?
Ao contrário das outras teorias mencionadas - teoria quântica, ou a teoria da relatividade restrita e geral, a teoria da evolução mexe com as nossas origens de daí causar tanta celeuma e menor aceitação…acima de tudo por quem não a conhece! Segundo esta teoria não há uma justifcação para a assunção comum de que a evolução está "dirigida" para os humanos, ou que estes são a "expressão suprema da evolução". Mas é impressionante a frequência com que esta assunção presunçosa se manifesta (antropocentrismo rules). De forma objetiva, nua a crua o Universo tem precisamente o que se deve esperar se, no fundo, não há desígnio, nem bem, nem mal, nem nada, senão uma indiferença cega e insondável. É uma verdade inquestionável que somos primos dos chimpanzés (não derivamos deles como erradamente se pensa, partilhamos, antes, um antepassado comum), primos mais distantes dos papa formigas, primos ainda mais distantes das bananas e dos nabos...a lista poderia continuar indefinidamente. Ora isto não tem de ser verdade. Não se trata de uma verdade evidente, tautológica, óbvia e houve tempos em que a maior parte das pessoas, mesmo as instruídas, pensava que não era. Não tem de ser verdade, mas é. Sabemos isso porque uma vaga crescente de provas o confirma - a evolução é um facto. Não tem uma finalidade nem caminha num sentido de maior perfeição (do ponto de vista evolutivo temos a mesma valide de uma serpente ou de um papa formigas…) O seu caminho é o da adaptação às características ambientais do meio, vigentes em determinado período da história da Terra. Que chatice para o nosso ego e para o nosso antropocentrismo.
Quanto aos 5 valores epistémicos que se presume promoverem o caráter verdadeiro da ciência (Exatidão Preditiva, Coerência interna, Consistência externa, Poder unificador, Fertilidade…e simplicidade), vamos tentar aplicá-los ao “A origem das espécies”:
1 - Exatidão Preditiva
Avançando a partir do mecanismo central, houve áreas onde a teoria Darwinista foi profética (como por exemplo na distribuição biogeográfica). Segundo ela podemos inferir que os organismos de cada ilha serão aparentados com os do continente próximo.
2 - Coerência interna
A teoria não é incoerente (não encerra contradições). Um dos problemas foi o de tentar aplicar a luta pela sobrevivência (de forma sistemática e a todos os seres vivos) do ponto de vista individual...então e os insetos sociais? (só Hamilton, 100 anos depois, se aproximaria de uma resposta satisfatória).
3 - Consistência externa
Quando Lord Kelvin calculou a idade da Terra em cerca de 25 M.a, a teoria de Darwin vacilou e quase foi ao tapete... mais tarde verificou-se que a idade da Terra seria de 4,6 biliões de anos (tempo esse que já era compatível com a ação da selecção natural). O lado irónico é o facto de serem os Físicos a estarem errados - gloriosamente errados - e não a biologia evolutiva de Darwin.
4 - Poder unificador
Neste aspecto mostra todo o seu valor, unificando numa única, todas as áreas díspares, até então, da Biologia. Como diria mais tarde T. Dobansky: "nada em Biologia faz sentido a não ser à luz da evolução.".
5 - Fertilidade
A teoria encerra em si um elevado potencial, possibilitando novos caminhos de investigação.
Em relação à simplicidade, ela surge, ou não, dependendo do olhar que contempla a obra. Não é fácil assumir esta obra como simples, mas se a olhar-mos pela capacidade do poder unificador, ela é elegantemente simples.
Embora "A origem das espécies" não seja uma obra perfeita, ela representa um salto quântico acima de toda e qualquer coisa (até ela e depois dela) oferecida para explicar as origens e evolução da vida!